Foto: Eduardo Tesch (Diário)
Antônio (de verde) e o cobrador, Cristiano de Ávila Lima, ajudaram cadeirante a embarcar
A correria do dia a dia faz com que a gente esqueça, com frequência, de onde deixou algum objeto importante ou se questione sobre ter feito determinada tarefa. Mas essa mesma rotina tumultuada não fez com que o motorista de um ônibus que faz a linha UFSM/Faixa Velha deixasse de se emocionar com uma situação, no mínimo, inusitada. Na última terça-feira, Antônio Cezar Machado da Silva seguia em direção à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), quando, no ponto de ônibus que fica em frente a Catedral de Santa Maria, na Avenida Rio Branco, avistou uma passageira em uma cadeira de rodas. O que aconteceria a seguir deixou o motorista tão revoltado que o levou às lágrimas.
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- Eu vi aquela moça acenando para o ônibus parar. Assim que parei e fui abrir as portas para ela poder embarcar, um grupo de cinco ou seis pessoas passou por cima da menina. Achei aquilo o cúmulo e fechei a porta. Em seguida, eu dei ré no ônibus, pra que ela pudesse subir e disse que não iria abrir a porta para aquelas pessoas enquanto a menina não tivesse embarcado. Meu colega me ajudou a colocá-la no ônibus e, depois que todos haviam se acomodado, chorei de raiva - comentou o Antônio.
O ocorrido comoveu o motorista, que acabou falando aos demais passageiros. O "puxão de orelha" emocionou tanto que acabou virando um post nas redes sociais. Uma das passageiras que presenciou a cena parabenizou o motorista pela atitude. No Facebook, até o final da tarde desta sexta, a postagem de Márcia Simões, que é estudante de Serviço Social da UFSM, já tem mais de 2,5 mil reações e quase mil compartilhamentos.
- Meu objetivo foi justamente isso, destacar a atitude humana dele, e fazer com que as pessoas façam uma reflexão sobre suas atitudes, em relação ao outro.Peguei o ônibus lá no fim da linha, ele estava como o rádio ligado e cantando, cumprimentando todos como sempre. No final da fala dele ele embargou a voz e chorou. Ficou absoluto silêncio, e alguém atrás de mim disse: 'concordo' e bateu palmas, e todos aplaudiram. Até eu chorei... e seguimos em silêncio até a UFSM - disse a passageira.
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Mesmo com o tumulto, a cadeirante não ficou ferida. Para o motorista, o episódio foi um momento de tristeza.
- Eu falei mesmo porque fiquei muito chateado. É claro que não podemos generalizar, mas tem pessoas que a gente não entende, parece que dá um branco e não percebe a situação. Durante meus 16 anos de trabalho como motorista, nunca havia passado por uma situação desagradável assim, mas fiquei feliz porque vi que as pessoas aplaudiram e concordaram que aquilo foi errado - concluiu.
FIGURA CONHECIDA
Esta não é a primeira vez que Antônio Cezar vira personagem de uma história contada pelo Diário. Em 2017, a reportagem acompanhou a rotina do motorista, que é conhecido por muitos alunos como o "mito", por conta do bom humor com os passageiros. Na época, foi comum ouvir, durante o trajeto, os famosos bordões: "e aí, fera!", "firmão no busão" e "de leve na neve", quando alguém entrava no coletivo.